PARADOXOS ORGANIZACIONAIS





PARADOXOS ORGANIZACIONAIS

A temática dos paradoxos organizacionais está consolidada em teoria das organizações. 
Muitos trabalhos sobre esse tema mostram que os indivíduos e grupos organizacionais costumam representar suas experiências e a realidade complexa na qual se inserem a partir de um viés perceptivo. 
Como sugere Lewis (2000), pode-se entender o paradoxo organizacional como uma representação, pelo indivíduo ou pelo grupo, de suas experiências, sentimentos, crenças e interações por meio de dois estados aparentemente inconsistentes, duas realidades opostas e aparentemente inconciliáveis. 

A tendência à polarização é uma forma do indivíduo simplificar a 
realidade complexa e ambígua na qual está inserido, para que ele possa lidar com os diversos elementos à sua volta, principalmente aqueles aos quais é mais vulnerável. 

Consequentemente, indivíduos e grupos começam a agir em função dessa percepção polarizada, que corresponde à sua representação subjectiva da realidade. Em organizações, são descritos como paradoxos dualidades do tipo “autonomia e conformidade”, “novo e velho”, “aprendizagem e mecanização do trabalho” e “liberdade e vigilância” (Eisenhardt, 2000).
A temática dos paradoxos organizacionais não é recente. Por exemplo, Merton (1936) afirmou em seu texto The Unanticipated Consequences of Purposive Social Action que toda acção social produz consequências contraditórias, dado o facto de que para cada efeito desejado de uma acção, existe uma série de efeitos não previstos, que se contrapõem aos efeitos buscados pelos indivíduos ao agir. 

Essa obra foi o ponto de partida para uma corrente teórica importante que trata dos paradoxos organizacionais, retomando os clássicos para elaborar críticas relevantes à burocracia (Merton, 1950; Selznick, 1955; Lawrence e Lorsch, 1967; Blau e Scott, 1970; McKinley e Scherer, 2000).

Além dessa corrente teórica, a pesquisa de Vasconcelos (2004) identifica duas outras relevantes A primeira são os estudos baseados no paradigma psicanalítico e psicodinâmico, cujos autores retomam estudos de Melanie Klein e Elliot Jacques, para citar alguns, revendo e actualizando estes trabalhos, com base no conceito de paradoxos (por exemplo, Jacques, 1955; Dejours, 1987; Enriquez, 1991; Diamond, 1993; Kets de Vries, 1995; Hirschhorn, 1997; Frost e Robinson, 1999; Gabriel, 1999). 

A segunda corrente são os estudos baseados na fenomenologia e no construtivismo, com base no interacionismo simbólico. Esses estudos retomam os trabalhos de Goffman, Peter Berger e Thomas Luckmann, entre outros autores, e trabalham o conceito de paradoxos na aprendizagem organizacional, na formação da identidade e na cultura organizacional (Goffman, 1959; Benson, 1977; Berger e Luckmann, 1989; Poole e Van de Vem, 1989; Sabelis, 1996; Cameron e Quinn 1998; Wood, 2001; Myeong-Gu e Creed, 2002; Lewis e Lehler, 2003; Vasconcelos, Motta e Pinochet, 2003; Mascarenhas, Vasconcelos e Protil, 2004).

Diversos autores dessa última corrente teórica assimilam elementos da filosofia hegeliana ao analisar as contradições inerentes aos processos de mudança organizacional. Esses autores assumem uma visão dialética da organização ao discutir a mudança como o movimento interno da contradição.

Segundo a filosofia hegeliana, o paradoxo se expressa pela proposição “A e não A”, em uma
impossibilidade lógica de se atribuir a um objecto duas qualidades opostas e mutuamente excludentes ao mesmo tempo. O processo dialético acontece por meio dos paradoxos: o sujeito surge e se transforma graças à contradição de seus predicados, tornando-se outro pela negação interna dos mesmos.



PARADOXOS ORGANIZACIONAIS NO CONTEXTO DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

 Os paradoxos se configuram como um choque de valores, ou de concepções, ou de possibilidades, e/ou, até mesmo, de performance, ou seja, um contraste e, por vezes, uma contradição entre o potencial da organização e o seu efectivo desempenho. Do paradoxo nasce a perplexidade. 

Da perplexidade decorre a dificuldade de compreender a razão, e o porquê, da não correspondência entre possibilidades e concretizações.
Por vezes, os censores internos estão prejudicados pela rotina do cotidiano, ao ponto de não perceberem o grau de distanciamento que existe entre o potencial da organização, e/ou empresa, e o correspondente efectivo desempenho. 
Daí o paradoxo e a decorrente perplexidade.

Toda organização tem uma capacidade instalada vinculada à natureza do negócio. Essa capacidade instalada traz inerente seu potencial de comportamento organizacional e de desempenho, do qual decorre seu portfolio de competências a ser estimado e avaliado através de bens e serviços.

A avaliação e a auditagem, interna e externa, estão sujeitas aos vieses, parâmetros, e critérios dos diferentes protagonistas quando na análise das potencialidades e do desempenho de um empreendimento.
O paradoxo, portanto, se apresenta como uma espécie de dilema e, concomitantemente, de contradição, no jeito de fazer a gestão organizacional.

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